Acaso acontece.

O Negociante.

junho 30, 2010
4 Comentários

Quando trabalhava na Distribuidora Santana o Flavinho chegou à conclusão que ter um negócio próprio era a solução para os seus desejos. A Santana ficava ali na Avenida dos Andradas com Rua Aarão Reis e fornecia jornais e revistas para todas as bancas do Alto Savassi ao Baixo Belô. Logo a conclusão: uma banca bem localizada é uma mina de ouro e  me livro do patrão.

Juntou dinheiro uns três anos até que surgiu a oportunidade. Um senhor que se aposentara estava vendendo uma banca na Avenida João Pinheiro esquina com Rua Timbiras. A negociação foi rápida e na semana seguinte assinaram os documentos e o Flavinho tomou um porre para comemorar. Dentro do copo as chaves da banca eram bentas para trazer sorte e muitos fregueses.

Mal saiba ele que benzer com álcool atrai o caboclo Zé Pilintra, não oferecer para Exu deixa-o contrariado e faltou jogar uma pro santo. Dois dias depois a banca estava funcionando, sortida com variedade de revistas e jornais. Para completar o mix de produtos organizou uma vitrine/balcão com balas, chocolates, cigarros, canetas, talões de estacionamento, chaveiros e outras miudezas.

Na segunda semana de trabalho percebeu alguma coisa lhe incomodando muito. Foi na tarde da sexta-feira que entendeu tudo. De cada três pessoas que paravam na banca, duas pediam informações sobre algum lugar ali perto e a terceira acendia o cigarro no isqueiro dependurado. Ficou contrariado, o seu comércio estava virando uma empresa de favores. Seu maior pagamento era um muito obrigado, ou o pior, valeu véi!

No final de semana encontrou a solução, fez um cartaz com os seguintes dizeres:

“Detran e CDL do outro lado da rua, dois quarteirões acima”.

“Museu Mineiro dez passos adiante”.

“Associação Médica do outro lado da rua, no quarteirão de baixo.”

“Cartórios todos os três no início da avenida”.

Ao final de cada frase uma seta indicando a direção. Pendurou a placa junto ao isqueiro, no lugar mais visível da banca.

De tempos em tempos algum desavisado perguntava e ele apontava para a placa, sem falar uma palavra. Percebeu que naquela semana as vendas caíram, nem bala estava saindo. Havia alguma coisa errada, seria a placa? Pode ser que os clientes interpretassem como falta de educação. Ou seria mesmo uma grosseria.

Pensou a semana toda, às vezes saía da banca e a olhava a certa distância tentando descobrir o que havia de errado. Encontrou a solução. Trocou a placa, hoje está assim:

Vendo:

Jornais e revistas diversos;

Talões de Estacionamento;

Balas, bombons, chicletes;

Lápis, caneta e borracha;

Envelopes e folhas A4;

Informações R$ 2,00!


    Coloque aqui o seu email para receber semanalmente as atualizações do Acasoacontece.

    Junte-se a 30 outros assinantes