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Chega! Não quero mais te ouvir! Não aguento mais tanto argumento furado. Tanta indecisão, você é um bundão. Bundão! Cansei, você não consegue decidir nada, você tem medo. Tem medo de tomar decisões, vacila o tempo todo. Vacilão! Bundão e vacilão, é isso que você é! E fica agora fazendo esta cara de ironia, este sorrisinho de canto de boca fingindo que tem o controle da situação. Agora vai me dizer que sou estourada, histérica, nervosinha e que não consigo dialogar. Vai dizer que com grito não tem diálogo e mais bla bla bla bla…
Então, agora eu posso falar?
Não, não pode. Você já falou demais, já apresentou seu discurso articulado, suas justificativas, seus desejos de liberdade. Ah! Como é mais livre o namorado do que o marido, não é mesmo? A justificativa mais babaca para não assumir um novo comportamento. Vire homem, porra! Não quero suas justificativas intermináveis, filosofias furadas. Bundice! Isso sim, bundice! Na hora do pega pra capar, de colocar os pingos nos is, o meu sangue sobe mesmo. Sou descontrolada, louca, histérica. Sou mesmo, sou muito mesmo, é porque tenho sangue. Sangue quente! Sou Almeida Prado, lembra? Pois é, sou sangue fervendo! Sangue nos olhos! Pode ironizar, finja este alto-controle budista. Finja que é zem. Zem bundista! Do bundistão, província do cuzão.
Ela saiu e não bateu a porta, deixou no ar sua voz ecoando.
Mulheres! Que se vá, estou de saco cheio de chilique. Não quero me casar agora e pronto. Parece até que não vivemos nada de bom nestes cinco anos. Agora precisa casar de todo jeito. Por que não podemos continuar vivendo assim? Não, não podemos, ela quer casar, depois quer filhos e uma vida comum, igual a de todo mundo. Ainda quero viajar muito, curtir a vida, aproveitar. E não adianta explicar, ela só pensa em casar. Toda mulher é assim, chega numa fase que só pensa em casar, os hormônios gritam e a vontade de ter casa e filhos é maior do que tudo.
Ligou a televisão, abriu uma cerveja, se recostou no sofá. Pela porta ainda aberta chegou Dona Suane.
Luis Augusto meu filho, acabei de encontrar com a Juliana na esquina. Ela estava aos prantos e me disse barbaridades a seu respeito. Olha, já estou cansada disso e não agüento as suas briguinhas de casal. Te dou um conselho apenas. Larga dessa moça de uma vez por todas e não me traga aborrecimentos. Daqui a pouco ela aparece com barriga e ai você já viu a confusão que é. Já te ajudo demais com o Bruninho e não quero mais dor de cabeça.
Sabe amiga, o que me fez acreditar que o cachorro era o homem da minha vida foi a forma como nos conhecemos. Eu já te contei, lembra? Aquela trombada na rua, quando quebrei meu salto e ele me ajudou? Achei lindo ele sair correndo pra comprar super bonder, colou meu salto e eu ainda cheguei à reunião a tempo! Ah foi lindo! Ai, ai, ai, faltou contar que ele trocou a super bonder pelo número do seu telefone.
Então, me envolvi de cabeça, me entreguei ao safado. Como poderia saber que ele era casado e tinha mulher e filhos no Rio? Se ele pelo menos tivesse um orkut, um face book, eu saberia, mas o cachorro acha isso tudo infantil. Nhem, nhem… Claro que acha, né! O cara tem vida dupla, vai ter que criar diversos perfis fakes para cada uma das vidas paralelas. Isso é loucura! Ou então ele é geminiano e tem ataques de dupla personalidade.
Agora pensa bem, olha que vida louca. Se ele quisesse fazer qualquer coisa comigo, me seqüestrar, me estuprar, sei lá… não deixaria rastros, tudo que eu sei da vida dele me parece mentira agora. Conheci apenas dois amigos, na verdade colegas de trabalho, e ele falava dos pais morando do Rio. Ah cachorro, vai ver nem tem Mãe e quando falava da Mãe estava falando da corna da mulher. Que vontade de contar tudo para esta mulher, de abrir os olhos dela, sabe? Toda hora lembro do álbum de fotos que encontrei no porta-luvas do carro! Ah que ódio! Podia descobrir o endereço deles no Rio e chegar fazendo um vendaval, baixar a Iansã na casa dele!
Você é muito engraçada, imagino rodando a baiana na casa do safado, seria lindo. Mas pense bem, vai ver ela sabe, ou desconfia e até mesmo aceita. Pode ser que para ela é mais confortável que ele pule a cerca e a deixe mais a vontade. A gente pensa muito nas convenções e tem gente que vive uma vida alternativa. É, mas com certeza ele tem medo de que eu faça algo, não é a toa que ele desapareceu. Que nada, pode ser que ele tenha desaparecido apenas porque não dá mais para te usar na fantasia de solteiro.
Acaso acontece. 